Olá pessoal!
Desculpem eu me meter no assunto, mas antes de mais eu gostaria de encorajar as pessoas iniciantes a não se assustarem com a teoria e com os nomes a ela associados. A teoria não é tudo. E na minha opinião a prática vale mais neste caso. Pois, vocês sabem, as plantas querem é crescer e reproduzir-se, como qualquer outro ser vivo. E particularmente as sementes querem é germinar para continuar o ciclo de vida. Algumas fazem-no instantaneamente (só precisam de humidade e temperatura amena) mas outras necessitam de algo mais para interromper a dormência. Independentemente do nome atribuído ao processo e/ou o seu significado teórico, o importante aqui é saber executá-lo bem, pois tudo o resto é totalmente irrelevante, acreditem...!
"Practice makes perfect"
Agora aquilo que aprendi nas minhas aulas de fisiologia vegetal...
Estratificação é o termo geral atribuído ao processo que mimetiza artificialmente as condições "in situ" (por outras palavras, no habitat natural/ na Natureza) que as sementes têm de sofrer para germinar (sejam essas condições quais forem). A definição de estratificação é apenas isto... Simples não é?
Agora existem outros termos que são mais precisos e que classificam (digamos assim) o termo geral "estratificação", consoante o ou os factores envolvidos.
Acham este paleio muito confuso? Então vejamos alguns exemplos
A maravilhosa família das proteáceas, nomeadamente as espécies que habitam o Fynbos sul-Africano e as Australianas, necessitam de fogo para que as suas sementes possam germinar (ou então no caso daquelas especies cujos frutos permanecem fechados, o fogo provoca a abertura dos folículos e as sementes são libertas. Posteriormente quando entram em contacto com a cinza, puff! E fez-se o chocapic!). Então se algum dia quiserem germinar Protea, Leucadendron, Banksia (olhem, ou até mesmo Byblis ou Stylidium) terão que utilizar um método específico de estratificação denominado Fumigação. Não vou explicar no que consiste para não tornar o post longo e maçador, mas devem ter já uma ideia.
Ora se considerarmos as espécies de climas temperados, aqui os factores mais importantes são a temperatura e humidade. Neste caso as sementes só germinam quando se apercebem que a Primavera (ou em alguns casos o Outono) chegaram. E sabem-no pois estes factores sofrem alterações com o decorrer do tempo e quando atingem uma combinação adequada, as sementes iniciam o processo germinativo.
Falando em carnívoras, as Sarracenia, as Darlingtonia, e algumas Drosera necessitam de passar por um período que simule o inverno para que germinem (algo que todos vós já estão fartos de ouvir falar). Neste caso utiliza-se um outro processo de estratificação denominado vernalização ou então simplesmente por estratificação a frio.
No caso das espécies tropicais, os epífitos têm o hábito de germinarem rapidamente na presença de luz (alguém falou em Nepenthes? hehe
). Mas as plantas que vivem no solo são totalmente diferentes. Conhecem as famosas Heliconia? Pois bem, são das sementes mais maradas que já tentei. Podem colher à vontade 50 sementes duma mesma inflorescência de uma dada espécie. Depois de semeadas a germinação é totalmente irregular. Por outras palavras, as sementes germinam quando querem. Podem surgir duas plântulas em 10 dias, depois mais uma, e passados 2 meses surgem mais 2 em sucessão, e passam 3 meses sem germinar nenhuma, e depois subitamente aparecem mais 2 etc. Podem dar as condicões que quiserem (frio, calor, ácido giberélico etc), se não acabarem por matar as sementes, elas continuam na sua e apenas acordam quando querem, independentemente do que se faça. Aqui aparentemente entra em jogo um factor genético além de outro stuff mais pesado...
Mas há uma razão por detrás disto tudo (como sempre hehe). Nos trópicos o clima é constante, por isso acham que faz diferença para as sementes germinar no dia 23 de Março ou a 17 de Novembro? Nope! Ela sabe que, independente da data em que germinar, as condições serão sempre as ideais para o seu desenvolvimento, por isso tornou-se mais importante a germinação irregular, em termos evolutivos. Neste caso utiliza-se um outro processo de estratificação, denominado de estratificação por envelhecimento. Já tenho sementes de Heliconia chartacea há nove meses, e uma expert disse-me que estas germinarão apenas passado um ano e mesmo assim... ãcreditem que já as reguei com ácido giberélico... niente!!! Tenho mesmo de ser paciente!
Há muitos outros tipos de estratificação... mas a fumigação, a vernalização, estratificação por envelhecimento, e a já referida escarificação, são os mais comuns. Todos eles tentam imitar ao máximo as condições que determinado tipo de sementes necessita para que a sua dormência seja interrompida!
P.S. Vernalizacão também é um termo atribuído a um processo relacionado com a floração nas plantas de dia longo. Embora o termo seja o mesmo, os significados são diferentes)
Agora a outra dúvida... Estratificação é físico ou químico? Pois bem... depende do tipo de estratificação a que nos referimos. Neste caso particular, é referida a estratificação a frio. Ok!
Então sejamos simples... O que é o frio? Lembro-me das aulas de termodinâmica que é um processo físico no qual ocorre a transferância de energia de uma região para outra (definição simplista, mas o essencial tá lá!!) Se pensarem bem, quando há frio, há calor pois ambos são antagónicos e estão sempre relacionados. Se puserem a vossa mão em mármore, este está frio. Como a energia flui do vosso corpo para o mármore vocês sentem frio, mas este último sente calor. Quando deixa de existir o fluxo energético, deixa de haver "frio/calor".
Ok!! Já chega de paleio!
Então a estratificação a frio é físico ou químico??? De acordo com a definição, é um processo estritamente físico. Não obstante, este processo acabará por induzir o metabolismo celular a iniciar a quebra da dormência.